quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Despedida de um animal amado

Talvez você não tenha percebido
Estou já envelhecido
Mas você não me abandonou
Você sempre me amou

Em mim há alguns pelos brancos
Meu andar agora é manco
Minha respiração está ofegante
Meu coração está cansado
Meu corpo esgotado
Já não sou mais como antes

Preciso de muita atenção
Preciso do seu tempo
Por favor, não deixe a janela aberta.
Faz-me muito mal o vento
Cubra-me com aquela velha coberta
Que eu mordia pequenino
Fale-me, sua voz é como um suave sino.
Não fique aí preocupado, sério.
Afague-me, o calor de sua mão,
É meu melhor remédio

Sou um animal ancião
Em mim não verá mais vitalidade
Mas continuo te dando toda minha amizade
Lembra-se de quando você chorava
Eu gemia baixinho e a cabeça deitava
Aos seus pés, sua dor passava.
Sente-se aqui comigo
De longe sinto tua dor
Coloco minha cabeça em seu colo outra vez
Suas lágrimas cessarei.
E sua companhia me livrará
Do medo, da aflição.
Que é sentir-se na solidão

Não há nado errado em envelhecer
Talvez a gente queira frear o tempo
Retardar a despedida
Mas está tudo bem
Pra onde vou também é vida
Diferente, mas ainda é.

Não precisa balançar a cabeça,
Sua mão está tremula
Começo a não querer te deixar
Você precisa mais de mim
Deixem que eu fique
Minhas patas podem tocar o chão
E se eu me esforçar então?
Mas tudo volta a doer
Não posso mais me mexer

Estou olhando pra você agora, você sorri.
Mas seus olhos choram
Mas, amigo, precisa ser assim.
Emociono-me, suas lágrimas me molham,
Quentes em meu pouco pelo
Seu carinho, seu zelo.
Retribui-o com meu olhar
Fraco, o sono quer chegar.

Os anjos já vieram
Rodeiam-nos você pode vê-los?
Sente a paz, a luz?
Não está mais doendo
Mas você está chorando
Agora compreendo
Estão me libertando

Dizem-me que não é adeus
Eles te protegerão
Cuidarão agora de nosso coração
Saudade será a única dor que sentiremos,
Mas, amigo tenha certeza de que logo nos encontraremos...

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